Tinha os meus 14 anos quando a conheci. Ela tinha 13.
Éramos ainda crianças mas, rapidamente, nos tornámos amigos. Pensávamos da mesma maneira, idealizávamos o futuro igual e até no "Que é que queres ser quando fores grande?" tínhamos a mesma vontade. Ambos queríamos ser jornalistas.
Não vivíamos na mesma localidade, por isso só nos encontrávamos por altura das férias escolares.
Gostava tanto dela que um dia ganhei coragem e perguntei-lhe:
-Queres namorar comigo?
Ela olhou-me, riu-se e respondeu-me:
-Pode ser.
A partir dessa altura éramos namorados. Um "namoro" de um miùdo de 14 anos e de uma menina de 13.
Lembro-me de passarmos tardes inteiras na quinta da minha tia a conversar, a brincar e, por vezes, a "namorar". Éramos crianças e gostávamos de estar juntos.
No final desse Verão, fui viver para fora do país, e "deixei-a" em Portugal. Recordo-me de ter chorado muito, de ir a uma cabine telefónica para lhe telefonar, de lhe escrever cartas. Recordo-me de esperar ansiosamente pelas cartas dela, de as ler e reler.
Apesar de longe, pelo Natal e pelo Verão conseguia sempre "negociar" com a minha mãe, a minha ida para Portugal durante todas as férias escolares. Mas, como ela não vivia no mesmo sítio, nem sempre era possível vê-la. Mas a esperança existia sempre.
Os anos foram passando e chegámos a uma altura em que tivemos de deixar de ser "namorados".
No entanto, durante as férias, havia como uma "atracção" qualquer que nos fazia obrigatoriamente encontrar e passarmos tardes e tardes juntos a falar de tudo e de nada, mas já com planos bem mais definidos.
Ela já namorava. Nunca lhe disse, mas tinha ciùmes dele.
Entretanto, também eu comecei a namorar e lembro-me de num Natal ter vindo passado férias e de a encontrar e de lhe dizer que tinha uma namorada e que queria muito apresentá-la.
Nesse dia tivémos a conversa mais séria de sempre.
Falámos daquilo que poderíamos ter sido, mas sobretudo daquilo que éramos e do que queríamos ser. Durante essa conversa chorámos, rimo-nos e sonhámos. Foi a última vez que falei com ela, que a vi.
Cinco mêses mais tarde, aquela menina que eu tinha conhecido, já mulher na altura,desaparecia num acidente de viação, levando com ela todos os seus sonhos.
Este texto, mal escrito, é verdade, serve apenas para lhe prestar uma homenagem.
Faz hoje exactamente 16 anos que ela partiu. Nunca me esqueci, nem nunca me vou esquecer dela.
Esteja onde estiver, será para sempre recordada.