quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Tão verdade...


O mais estranho, é que gosto mesmo de ti. Gosto moderadamente dos amigos e tolero os colegas, os vizinhos, a empregada e o Antunes do supermercado. Mas de ti, gosto mesmo. A tua lembrança é um prazer que desliza, surripiando-me; chegas de repente, agradável como uma brisa quente ou uma boa notícia, e eu imagino-nos cenários, não amorosos nem eróticos, mas, antes, de circunstância: encontros fortuitos, casuais, um pequeno-almoço, um relance de carro, um telefonema, uma gargalhada, um encontro de pulsos, de tornozelos. Faço-o sem qualquer expectativa romântica ou intuito amistoso: és menos do que uma amante e mais do que uma amiga. Não que me sejas mais próxima ou íntima, não sei se o és, mas porque, mesmo longínqua, me exaltas e entreténs, ocupando o meu espírito movediço e centrando-o, como a perspectiva de ir de férias ou de casar amanhã. Não me iludo, não é disso que se trata: apenas te construo em mim, uma e outra vez, como uma primeira dentada antecipando a gula, lenta e deliberada. Nunca o esmaecer do teu rosto me angustia, antes, enleva-me e inspira-me, soalheiro. Há momentos em que te conduzo para sítios bonitos de cartaz, como jardins secretos e praias desertas, e onde te vejo ao meu lado como se estivesses mesmo. Ali, entabulo conversas, contradigo-te e acotovelo-te, deixando que me faças cócegas e me olhes longamente, como os casais nas fotografias. Encontro-te no estame de uma flor, na caruma dos pinheiros e na linha do horizonte: basta-me olhar com atenção. E cheiras sempre bem: uma mistura de pólens, resinas e maresias, da qual sobressai o travo adocicado do desejo, quieto como as nuvens mais altas. Acima de tudo, enterneces-me. E é esta perenidade mansa, que não reconhece o escavar do tempo, que não pede retorno e se basta em si mesma, que às vezes me inquieta e assusta, nem sei bem porquê.
(excerto do filme "Edward Scissor Hands")

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Lição de vida...


Hoje de manhã decidi ir tomar o pequeno almoço a um café perto de minha casa...Nada de extraordinàrio,a não ser,talvez,o facto de eu nunca tomar pequeno almoço...Mas adiante...

Cheguei ao café,encomendei e sentei-me...ao meu lado estavam duas senhoras de uma certa idade,ambas muito bem vestidas e uma delas com oculos escuros...é normal com o tempo que està,pensei eu.

Não sei do que falavam e nem sequer prestei atenção a isso.

Entretanto chegou um senhor,da mesma idade das ditas senhoras,olhou-as e de modo educado cumprimentou-as com um "Bom dia" cheio de vigor e que indiciava um senhor muito bem disposto.

Nenhuma das senhoras lhe respondeu...o senhor pediu o seu café ao balcão,tomou-o e quando saia,passou novamente pela mesa das ditas senhoras e mais uma vez as cumprimentou...continuando sem obter resposta.

Foi então que se aproximou da senhora que tinha os oculos escuros e lhe disse:

-Bom dia...a dona Irene,com os oculos escuros,nem me reconhece.

A senhora virou-se para ele e disse-lhe:

-Desculpe senhor João...Não o vi e não lhe reconheci a voz...Sabe... estou cega desde o dia 22 de Junho deste ano...os diabetes não perdoaram.

O senhor ficou sem saber o que dizer...no entanto là lhe sairam umas palavras.

-Lamento dona Irene...não sabia do que padecia...tenho muita pena...

A senhora interrompeu-o e disse-lhe:

-Não tenha pena senhor João... Lamente,mas não tenha pena...Estou realmente triste de jà não poder ver os meus filhos,os meus netos,a minha familia...mas vou continuar a ouvi-los,a senti-los felizes e com saude,porque fiquei sem a vista...mas estou viva...E hà dias em que até penso que é uma vantagem eu não poder ver o que nos rodeia.


Pois...e eu ainda me consigo queixar...

Eu tive um sonho...


Sonhei que te tinha conhecido hà uns anos atràs...e que logo na primeira palavra que me disseste,me tinhas fascinado...que no primeiro olhar me tinhas destruido quase todos os meus escudos,as minhas defesas...

Sonhei que quanto mais falàvamos... menor era a minha resistência...que me sentia cada vez mais fraco e que começava,cada vez mais,a apreciar essa fragilidade.

Sonhei que tinha vontade de te dizer tudo aquilo que sentia,mas que me faltavam sempre as palavras e que a coragem desaparecia...

Sonhei que sentias o mesmo por mim,mas,mesmo assim,as palavras tardavam em se soltar...

Sonhei que um dia,finalmente,te disse tudo aquilo que sentia...que as palavras se soltavam mas que eram insuficientes...

Sonhei que,pela primeira vez,te tocava,te beijava,que te amava...isso,apesar,de o desejo hà muito o ter comigo...

Sonhei que namoràvamos,naqueles passeios que dàvamos,naquele "jantar de apresentação"...

Sonhei nas gargalhadas que partilhàmos,nos silêncios que trocàvamos,nos projectos que faziamos,em tudo o que ambos desejàvamos...

Sonhei na vontade enorme de ter sempre comigo,a meu lado...nos momentos em que os nossos olhares eram mais fortes que quaisquer palavras que pudessem ser ditas...naquele pôr do sol que vimos juntos...

Sonhei que éramos felizes...

Sonhei que...

Acordei

domingo, 2 de setembro de 2007

Felicidade....


Hà uns dias perguntaram-me quais os sonhos que tinha e se era feliz.

Respondi que sonhos jà não tinha...Tive muitos,é verdade,mas por vàrias razões não se realizaram,talvez seja por isso que deixei de acreditar neles...Hoje tenho projectos de vida...Quanto a sonhos,quem sabe um dia...

Se sou feliz?Não sei...Afinal o que é a felicidade?

Acho que,por vezes,tentamo-nos convencer que a nossa vida serà melhor quando casarmos,depois ter um filho,depois mais outro...

Depois sentimo-nos frustrados,porque os nossos filhos ainda não são grandes e pensamos que estaremos melhor quando eles crescerem.Pensamos que seremos mais felizes quando eles ultrapassarem essa etapa.

Dizemo-nos muitas vezes que a nossa vida serà mais completa quando as coisas correrem melhor com o(a) nosso(a) companheiro(a),quando temos alguém,quando tivermos um carro melhor,uma casa maior,quando pudermos ir de férias,quando estivermos na reforma...

A verdade é que não hà melhor momento de ser feliz que o momento presente.Se não é agora quando serà?A vida terà sempre desafios,objectivos a alcançar e projectos para terminar.

E preferivel admiti-lo e decidir ser feliz agora...Neste momento.

Durante muito tempo pensei que a minha vida ia começar.A verdadeira vida! Mas havia sempre um obstàculo a ultrapassar,um problema que se tinha de resolver primeiro,um (mau) momento a passar,uma conta a pagar.E depois,sim...a vida começaria.

Até ao dia em que percebi que tudo isso,todos essas coisas eram a minha vida.

Esta perspectiva levou-me a perceber que não hà um caminho que nos leva à felicidade...A felicidade é o caminho...

E assim que passamos cada momento que temos e ,melhor ainda,se o pudermos passar com alguém que nos seja muito especial,tão especial que partilhe o tempo connosco e que nos lembre que o tempo não espera,não pàra...

Por isso,penso,que não podemos esperar de acabar os nossos estudos,de aumentar o ordenado,de nos casarmos,de ter filhos,de que os nossos filhos saiam de casa e que comecem a voar sozinhos,ou simplesmente esperar pela sexta feira à noite,o domingo de manhã,a Primavera,o Verão,o Outono ou o Inverno para decidir que não hà melhor momento para ser feliz que o agora...

A felicidade é uma trajectoria e não um destino...Penso que não é preciso muito para se ser feliz,basta,talvez,dar o devido valor a todos os momentos e tornà-los um dos melhores da nossa vida.

Por isso penso que sou feliz,não totalmente,claro,mas sou à minha maneira...Sei que nunca o serei completamente mas serà ,concerteza,isso que me farà avançar.

Jà passei por momentos muito maus,sei que ainda virão muitos mais...mas até ai aprendi e vou continuar a aprender.Jà fiz coisas boas,muitas màs,jà fiz muitas asneiras,jà me arrependi de coisas que fiz,mas sempre assumi...tentei sempre seguir o que achava melhor para mim e,julgo, que pouco mudaria na minha vida...

Não gosto de pessoas que se deixam levar pela vida...Faz-me confusão...Na minha opinião são pessoas que nem coragem têm para serem felizes...Também não gosto da expressão "tens o destino traçado"...Eu não quero ter o "destino traçado"...Assusta-me o facto de não poder comandar a minha vida,o meu destino...Jà hà demasiadas coisas que não controlamos...Que,pelo menos,a minha vida eu possa controlar...Quero ser eu a traçar o meu destino....Quero me bater,me esforçar por aquilo que é ou serà a minha felicidade,a minha vida,o meu destino...Quero aprender com todos os erros que cometerei,mas também quero saborear cada instante de triunfo que houver...Vou tentar batalhar sempre por aquilo que possa me fazer feliz...Sou-o,dentro daquilo que posso e tenho...Mas quero sempre mais...